13 de jul. de 2009

Educação: O dilema de um professor

Em recente debate virtual sobre como o professor deve se portar no atual cenário da nossa educação, escrevi o texto abaixo, que embora um pouco longo para um blog, acredito ser uma boa colaboração para quem reflete sobre educação.

Aceito questionamentos e colaborações.

"1. Questão posta
Destaco dois grandes problemas constatados na nossa curta discussão. O interesse dos acadêmicos e sua heterogeneidade.

O ponto que destacou, como outros colegas, é a preparação e ministério do conteúdo para poder motivar os alunos ao estudo e de forma que seja acessível para todos.

Me parece que a resposta teórica é fácil, o difícil é como fazer na prática. Discorro brevemente sobre ambos:

2. Teoria
Rui Barbosa, no texto "Oração aos Moços" (leitura obrigatória para os acadêmicos de direito) dizia que o direito deve tratar as pessoas de forma igualitária, mas para conseguir fazer isto ele deve tratar os igual de maneira igual e os desiguais de maneira desigual.

O fato de tratar as pessoas desiguais de forma desigual é uma tentativa de anular as suas diferenças. Isso é a igualdade material, o que é bem diferente da igualdade formal (que seria tratar todas as pessoas de maneira igual).

Na educação acredito ser cabível o mesmo raciocínio, o da aplicação da igualdade material. Explico melhor.

Se os alunos são diferentes, não podemos os tratar de maneira igual, devem ser atendidos conforme a necessidade de cada uma delas. Tratar os alunos de forma absolutamente igual apenas pontencializará as suas desigualdades.

Imaginemos dois alunos. O primeiro teve melhor formação e acesso aos bens culturais, por ser de uma família com melhores condições sociais, econômicas e afetivas. O segundo teve uma fraca formação familiar, axiológica, emocional e mesmo de bens culturais, faltando-lhe boas escolas, livros, revistas, jornais, cinema etc.

Absurdo seria tratar ambos de maneira igual, por que o primeiro obviamente estará mais capacitado para assimilação dos novos conteúdos, por ter conhecimentos prévios mais profundos.

Se as aulas forem preparadas e ministradas pensando-se nos alunos ideais certamente o aluno melhor formado aproveitará bem os conteúdos da aula e o com a pior formação anterior pouco assimilará. Portanto apliaremos ainda mais a desigualdade entre ambos.

O caminho é então tratar os alunos de forma desigual, oferecendo um suporte para que os alunos menos favorecidos se aproximem dos demais.

3. Prática
Como já dito, na teoria a questão é bem simples, contudo na prática começamos a ver os problemas.

Tratar os alunos de forma desigual seria uma saída, mas o que seria esse tratamento desigual? O quanto eu posso tratar eles como desiguais? Quais os meios apropriados para trazer equilíbrio a essa balança no final do semestre.

Mais difícil ainda é fazer isso com turmas grandes onde é quase impossível para o professor conseguir perceber as diferenças nos alunos (ou de todos).

Também acredito ser relevante considerar que o regime semestral (embora se justifique pelo lado comercial) diminui o tempo de contato do professor com o aluno (naquela disciplina), de forma que algumas vezes as dificuldades são percebidas apenas quando já não se tem muito o que fazer.

Por fim, deve ser considerada a atual realidade estabelecida no ensino em geral, em que o professor não tem remuneração pela preparação de aula e não é de fato incentivado (inclusive econômicamente) para a melhora de sua formação.

4. Concluindo e questionando
Acredito ter deixado bem claro que na prática tento algumas atitudes para obter a igualdade material, mas não sei se consigo de forma satisfatória, portanto lanço a pergunta aos colegas de debate.

O que fazer para obter a igualdade material? Lembrando que para isso devo deixar minha aula atrativa também para os que não tem interesse."